terça-feira, 14 de outubro de 2008

Ética e jornalismo: um furo de reportagem

Por: Marco Antônio
Acadêmico de jornalismo

A questão é: a informação veiculada na mídia de massa forma ou deforma a opinião pública? A resposta depende do grau de responsabilidade e ética do profissional com que a informação é produzida. Esse é um debate que jamais se esgotará. Principalmente porque sempre haverá nas salas de redação, de todos os veículos de comunicação do mundo, um profissional disponível às armadilhas da concorrência, onde prevalece o furo de reportagem sem a devida checagem criteriosa ao fato e por conseqüência a fidelidade ao mesmo.E aí que a ética se transforma em letra morta no dicionário profissional.Que não se crucifiquem unicamente o jornalista, mas também, e talvez, sobre tudo, os próprios veículos de comunicação, irremediavelmente expostos à concorrência que os induz à insana luta pela audiência e permanência no mercado. Traduzindo: se a produção do profissional não render audiência ou tiragem, seu emprego pode estar por um fio, digo, por uma linha. É mais ou menos assim que funciona. E daí que nasce, entre outras razões, a prática a agressão aos mais fundamentais princípios que devem reger o exercício do bom jornalismo.
Pode-se dizer que foram esses mesmos fenômenos – audiência x mercado, entre outros fatores menos votados, que geraram os amados e odiados formatos editoriais chamados “denuncismo” ou “notícia – espetáculo” que hoje impregnam a imprensa nossa de cada dia.
A crônica do jornalismo brasileiro é farta em registro desse nível de jornalismo que tem causado sérios – e muitas vezes incorrigíveis – prejuízos sociais e pessoais aos atores neles envolvidos e vitimados: o seqüestro na Santa Casa de Misericórdia de S. Paulo, que rendeu um verdadeiro show na mídia (artigo publicado na Folha de S.Paulo por Luiz Nassif), o caso da Escola Base, também em São Paulo.Há algum tempo, insistentes matérias veiculadas por jornais impressos de alcance nacional e redes de televisão, provocaram a renúncia de um senador brasileiro. Hoje inocentado, está de volta ao cenário político. São casos clássicos de notícia- espetáculo e denuncismo, tão perniciosos à qualidade e credibilidade da imprensa que nos é imposta. É que a imprensa, como destaca a Prof. Dra. Graça Caldas, jornalista e professora de Pós Graduação da Umesp, “ao se arvorar como justiceira ou manipuladora das informações, e ao confundir o imaginário popular, misturando ficção e realidade, presta um enorme desserviço. E conclui dizendo ser imprescindível recuperar o papel ético e de responsabilidade social que a própria imprensa defende, mas que nem sempre os pratica, impedindo que a sociedade forme cidadãos críticos e capazes de se tornarem sujeitos de sua própria história.
Mas será que esses fenômenos são culpa única da imprensa? Claro que não. Nós, público consumidor, devemos assumir solidariamente a mea culpa da sua existência. Afinal somos nós que contribuímos com a nossa audiência e ambigüidade de nossa curiosidade – mórbida curiosidade às vezes – para a realidade editorial que hoje viceja na imprensa.


Marco Antônio Araújo de Brito, é acadêmico de jornalismo do 6º semestre da Faculdade Seama.

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