sexta-feira, 16 de maio de 2008

DESMASSIFICAÇÃO NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

DESMASSIFICAÇÃO NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

Clay Sam – acadêmico de Jornalismo

Nesta semana resolvi dar uma arrumada em minha estante, que por sinal estava precisando, mas você deve imaginar como é esta vida de cantor, músico, compositor, produtor, jornalista, editor, ufa! E ainda tenho que dar atenção especial aos comentários da minha filha Tainá. Bom vamos lá, como estava dizendo ao arrumar, acabei encontrando um cordel, um daqueles livrinhos escrito por contadores de histórias, mas que obedece a metodologia de ser versificado. O assunto deste, em particular, era sobre uma família que se reunia no inicio da noite para contar histórias, falar das coisas boas e cantar algumas cantigas tipicamente regionais. Então lembrei dos tempos idos, em que as opiniões eram massificadas, a figura patriarcal, as famílias tradicionais que sustentavam o nome de seus antecessores e mantinham vivas as tradições, os costumes, as crenças e até o modo de vida. Ou seja, a opinião do chefe de família mantinha uma autoridade capaz de perpetuar por longas gerações.
Na década de oitenta, época em que vivi minha juventude, lembro-me de grandes líderes, Lula, Brizola, João Paulo II, de grandes ídolos, Madonna, Michael Jackson; os grandes movimentos, Diretas Já, Campanha da Fraternidade.... Estes exemplos nada mais eram do que o resultado de uma opinião que se massificava no mundo. Poucos canais de comunicação, com poucas opiniões adversas.
No mundo contemporâneo, com o surgimento das grandes evoluções tecnológicas, os meios de comunicação, passam a influenciar diretamente em nossas vidas, os acessos cada vez mais fáceis as informações, o individualismo a esses acessos. O homem não conhece mais o outro, fecham-se em seus apartamentos, condomínios; as cercas não só separam os quintais, como também separam o individuo de seu relacionamento com o próximo, passa a desaparecer a figura do médico da família, que conhecia gerações inteiras, o professor que acompanhava o andamento do aluno, o vendedor de leite, o padeiro. Hoje não sabemos quem mora em nossa rua, no bairro, nos tornamos figuras virtuais, passamos a comprar virtualmente, nossas contas, salários, investimentos, escolhemos a namorada/namorado/esposa/esposo, via net, o perfume é apresentado não mais pelo aroma, mas pela fórmula que é fabricado (de breu, pripioca, andiroba..). Dentro de um lar, uma mesma notícia, tem várias interpretações, por que são vistas em canais de comunicações diferentes, em cada cômodo da casa, um membro da família tem acesso a diferentes meios, através da internet, da TV a cabo, do jornal, do rádio,... Estes variados meios formam opiniões diferentes, é a partir daí que também deixam de existir grandes movimentos de protestos, de mobilizações por causas sociais, por melhorias de vida, por bons salários, deixam de existir os grandes líderes(Tancredo, Lula, Chico Mendes..), , os grandes ídolos(Elvis, Chaplin, Madonna...), os grandes mestres (Gadhin, Luter king, João Paulo II...) os heróis da grande massa (Patrulheiro rodoviário, Superman, Batman...), cada pessoa tem seu herói, sua escolha, sua justificativa, seu entendimento..
As manifestações de grande massa desaparecem porque quando surgem, no dia seguinte as rádios e televisões dão diferentes versões do ato: Um canal de TV noticia que o movimento é de cunho político partidário, um site local afirma que o político tal é o culpado, outra emissora de rádio dá razão aos manifestantes, dizendo que é legítimo tal manifestação. Em suma, o resultado do protesto vira um fracasso, tudo pelo fato de não haver uma massificação dos reais objetivos, não ter sido formado uma única opinião a respeito do ato. Houve uma divisão de informações, entendimentos, raciocínios, análises diferentes do mesmo episódio. As pessoas passam a se desconhecer, não falar a mesma língua, enfraquecem quando é preciso unir forças..

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