O pão novo
Dom Pedro José Conti, Bispo de Macapá
Certo
dia um mendigo bateu à porta de uma pobre casa. Um homem bom e honesto
lhe abriu e lhe deu por esmola um pão que estava na mesa da cozinha.
Imediatamente chegou a mulher dele e, com raiva, disse-lhe:
- Não é possível! Você está dando, ao primeiro que passa, o pão que eu tinha reservado para o nosso cachorro!
O homem, então, chamou o mendigo de volta e lhe disse:
-
Irmão, me perdoe! O pão que lhe dei, antes, era pão dormido... Era para
o cachorro! O pão para você é este aqui. E lhe entregou um belo pão
novo que a mulher havia apenas tirado do forno.
Um
exemplo de caridade bem feita. Aquele homem deu ao pobre o mesmo pão da
sua mesa; não lhe deu as sobras ou aquilo que não prestava mais. Com um
simples gesto manifestou que o considerava igual a ele, como um irmão
verdadeiro, com a mesma dignidade.
Sempre
podemos entender a página do evangelho da multiplicação dos pães e dos
peixes de muitas formas. O gesto de Jesus não foi somente uma resposta à
necessidade imediata da fome daquele povo. Aquele fato extraordinário
foi o anúncio de uma nova realidade que, se acreditarmos, nós também
podemos fazer acontecer, um sinal de esperança para o presente e o
futuro.
O
que nos chama a atenção é sempre a exiguidade do início – cinco pães e
dois peixes – e a quantidade das sobras: doze cestos de pedaços de pão. O
nosso medo é o mesmo dos apóstolos que achavam impossível poder saciar a
fome de tamanha quantidade de pessoas. Não queriam passar por
charlatães. Foi falta de fé, sem dúvida, mas também foi a consciência de
sua pobreza não só material, mas também de criatividade e confiança. Em
geral, todos nós preferimos o pouco seguro, que resolve o nosso
problema individual, que a partilha e a solidariedade para que todos,
juntos, consigamos o necessário na construção da fraternidade e da paz.
A
multiplicação dos pães e dos peixes não é só um gesto de caridade bem
feita por Jesus, é um caminho aberto para aprender que as grandes
questões da humanidade como a fome, o direito à vida, a liberdade
política e religiosa, a violência e a sobrevivência do próprio planeta
Terra, somente poderão ser resolvidas se construirmos laços de comunhão e
de respeito à dignidade e aos direitos de todos. Jesus, como sempre,
não dá uma receita já pronta, dá o exemplo. Precisamos aprender com ele.
Isso não significa que este projeto de fraternidade seja algo fácil e
imediato.
O
caminho é longo e cheio de obstáculos. No entanto, desistir com a
desculpa da impossibilidade, significa admitir que não existe remédio
para o egoísmo das nações, dos grupos de interesse e dos indivíduos que
têm o poder econômico capaz de manipular as riquezas do planeta. Nesse
sentido, talvez não exista e nunca existirá um modelo perfeito e acabado
de organização política e social em condição de resolver todas as
questões, mas, fechar os olhos e o coração para não ouvir o grito dos
pobres, dos excluídos, dos esquecidos, não somente não é uma resposta, é
um escândalo vergonhoso de indiferença e cinismo.
O
gesto de Jesus interpela, sem dúvidas, todo ser humano que tenha
consciência e boa vontade, mas questiona, sobretudo, os cristãos, ou
seja, aqueles que se declaram seguidores do Mestre. Cabe a nós,
cristãos, sermos mais ousados na fraternidade e na partilha, na busca de
soluções mais justas e solidárias aos sofrimentos que atingem, ainda
hoje, milhões de seres humanos.
Neste
domingo, o primeiro do mês vocacional, lembramos os padres. Eles são
chamados a multiplicar e repartir o pão da Palavra e o pão da Eucaristia
para que todos nós aprendamos a repartir também o pão das mesas, do
trabalho, dos recursos necessários para a sobrevivência, o crescimento e
a paz de todos. Todo domingo os cristãos são chamados a confrontar-se
com o amor total de Jesus, são convidados a tomar a sério as suas
palavras e o seu exemplo.
Rezemos para que os padres sejam os primeiros a acreditar nas possibilidades infinitas do amor.